quarta-feira, 28 de abril de 2010

"Biblioteca" sobre cinema on-line

"Vejam quanta coisa disponível para leitura neste link abaixo, incluindo o livro de Fernando Mascarello que estamos usando:

http://www.4shared.com/u/sggkgmq/5a2ff7f5/BIBLIOTECA_virtual.html "


Fonte: Rafaele (UFPB/Letras) em e-mail ao Cinefagia.

Agradecemos pela dica!

sábado, 10 de abril de 2010

Inscrições para o CineFagia


Mais informações: cinefagia@googlegroups.com

Palestra

UM CINEMA REVOLUCIONÁRIO LATINO: TOMÁS G. ALEA, GLAUBER ROCHA E RAYMUNDO GLEISER.
Expositor: Romero Venâncio
Dia: 24 de abril.
Local: UFPB
Hora: 09h

O REBELIADO E A AFIRMAÇÃO DO CINEMA DOCUMENTAL PARAIBANO

Por Romero Venâncio*

O mais recente trabalho do cineasta professor Bertrand Lira chega em boa hora. Explico-me: vive-se um razoável momento no universo da produção documental brasileira. Teses acadêmicas, livros ensaísticos e historiográficos, eventos de caráter nacional e internacional, nos mostram o quanto o cinema documental ganhou em visibilidade social nos últimos dez anos no espaço cinematográfico brasileiro. Como afirmam Cláudia Mesquita e Consuelo Lins:Ecoa um interesse revigorado pela prática documental, que pode ser constatado pelo aumento de filmes produzidos na última década... Esse estado de coisas não se restringe ao Brasil (LINS & MESQUITA, 2008:07). Porém, afirmar que o trabalho do cineasta paraibano está bem situado na esteira de um certo sucesso do trabalho documental é, no mínimo, dizer pouco sobre um trabalho original e ligado a uma tradição (mesmo renovando-a) do cinema documental paraibano que vem de longa data (estamos pensando aqui em Aruanda de Linduarte Noronha e Romeiros da guia de Vladimir Carvalho). Bertrand Lira é marcado por esta tradição paraibana que nos vem desde a década de 50 e 60, mas é profundamente marcado também por aquilo que se chamou de “cinema direto” e que a onda do formato “super oito” nos anos 80 marcaram uma forma mais livre e dinâmica de fazer cinema em João Pessoa e Campina Grande. Sendo mais preciso, o “cinema direto” com um corte inventivo mais provocante costuma ter a obra de Jean Rouch citada como referência básica. O mesmo Rouch que marcará uma série de cineastas paraibanos que farão curso na França sob sua influencia e farão na Paraíba da década de 80 um cinema documental novo e instigante, sendo Bertrand um desses “jovens turcos da Paraíba”. Uma marca importante na maneira de fazer “cinema direto” de Rouch é o trazer para um primeiro plano a entrevista e o depoimento, e também a encenação dramática como um modo de mais interativo e reflexivo (presentes de maneira decisiva no mais recente filme de Bertrand). A nova forma estilística documentária do cinema direto, baseada em entrevistas e depoimentos, afirma-se e expande-se rapidamente, atingindo seu auge nas décadas de 70 e 80. Ainda na segunda metade dos anos 60, o contexto ideológico que valoriza cada vez mais a intervenção do “sujeito-da-câmara” e os procedimentos desconstrutivos deixa para trás a maneira mais conservadora dos primeiros documentários europeus. O modo participativo do documentário direto será nitidamente dominante, principalmente na fala de cineastas e críticos sobre o fazer cinema. No decorrer da década de 60, Rouch vai estar no centro das discussões, defendendo a polêmica idéia de que é uma ilusão ideológica a “ética do recuo do sujeito na tomada” e, consequentemente, a interferência do cineasta no mundo é indissolúvel de sua presença na tomada. Roch vai mais longe nesse período de efervescência ao defender o aproveitamento das potencialidades das novas tecnologias para abrir a narrativa documentária à interação do cineasta. A já citada “jovem escola paraibana” de documentário bebeu muito nessa fonte e entenderam que, para o “novo documentário, a interferência do “sujeito-da-camara no mundo” – com a câmara na mão e gravador magnético no ouvido – ocorre através do procedimento estilístico de entrevista/depoimentos, ou na ação ativa na tomada, envolvendo, inclusive, a própria representação das condições de filmagem. Fica notório no filme de Bertrand o quanto ele entendeu e renovou tudo isso no momento em que vivemos no domínio das mídias digitais e de tecnologias cada vez mais leves e precisas (o que muito ajuda numa captação de uma fotografia mais nítida. Área que o diretor tem bom tramite, diga-se de passagem). Se é visível a presença do cinema direto de Jean Rouch no trabalho de Bertrand, não é menos visível uma outra presença, a saber, a de Linduarte Noronha (Aruanda) e Vladimir Carvalho (Romeiros da guia). Estamos aqui diante dos “pais do cinema documental paraibano”. Em Aruanda a improvisação, indispensável para se conseguir fotografar com uma câmara antiga, gera “luz estourada” (leitura de Fernão Ramos e Jean-Claude Bernardet). Essa fotografia crua vai se opor à fotografia clássica e congelada dos “modelos europeus”, conforme leitura de Vladimir Carvalho quando se refere aos estúdios paulistas à época. Glauber Rocha, no clássico artigo sobre Aruanda, está atento para a dimensão técnica precária, embora não vislumbre a nova estética que daí vai surgir e vai influenciar decisivamente toda uma geração de jovens e inventivos cineastas brasileiros. O fato é que a estilística inovadora de Aruanda é centrada na utilização da luz forte do Nordeste em sua intensidade natural. A técnica fotográfica dá forma à necessidade de exploração da luz, no registro da precariedade e potencializa a figuração “estourada da luminosidade”. A mesma formulação serve para a montagem do filme, realizada na sintonia do precário. A fotografia nova e a banda sonora com material da região são inovações próprias da forma do filme, mas não possuem densidade para dar a volta por cima e desembocar na estilística do direto (com tal afirmação, em nenhum momento retiramos a importância decisiva de Aruanda para o nascente cinema novo documental). A oposição à fotografia clássica do documetário inglês, por exemplo, não é percebida de imediato com esse potencial pelos cineastas, que iniciavam com Aruanda o ciclo documentário da Paraíba, o qual Bertrand é um dos filhos mais que legitimo. O que pretendemos demonstrar, ainda que de maneira superficial, é que os trabalhos de Bertrand Lira (mais particularmente o seu Rebeliado) estão dentro de uma tradição do cinema documentário paraibano e que tem o cinema direto de Jean Rouch e o pioneirismo de Linduarte Noronha e Vladimir Carvalho como marcas no seu trabalho. E sendo muito mais preciso: essa marca está presente em vários cineastas paraibanos, tais como: Walter Carvalho, Manfredo Caldas, Toarquato Joel, Marcus Vilar, Chico Sales e outros que não nos vem à memória nesse momento.

O Rebeliado é um documentário interessantíssimo por várias razões, a começar pela história. Bertrand Lira colhe uma história muito singular na vida de uma pessoa. Trata-se da história de vida de Clóvis Bernardo, hoje pastor pentecostal e a alguns anos atrás travesti profissional. História originalíssima na vida de um sujeito e não menos difícil de tratar cinematograficamente. O risco era muito grande de cair num moralismo ou numa ridicularização do universo popular em que o personagem nasceu e está inserido. O trabalho de Bertrand está em perfeita sintonia com o fazer documental hegemônico desde a década de 90, contando em muito a bagagem cinematográfica do diretor já explicitada no inicio do artigo. A câmara de Bertrand faz uma importante digressão na busca das raízes do personagem pastor, indo à sua infância muito pobre num engenho da cidade de Santa Rita. O encontro com a mãe do personagem é um marco para entender os rumos dado pelo personagem as suas errâncias pelo mundo marcadamente hostil. Aparecem também os irmãos do personagem, que dão um testemunho das agressões sofridas por Clóvis. Os depoimentos de fieis da igreja onde o ex-travesti pastoreia e de um político/radialista local são um caso a parte no movimento de câmara do diretor. Há um momento quase cômico, se não fosse trágico na vida de um personagem convertido do homossexualismo para a igreja pentecostal pelas mãos do pastor Clóvis, em um dado momento do filme Bertrand pergunta: se, mesmo estando convertido, ele erradicou por completo “desejo homossexual” e ele reponde: “para honra e glória do senhor Jesus”. O quase cômico é que estamos diante de uma resposta que não responde, mas quem vem assistindo a película sabe de antemão que essa resposta parece bastante sincera.

Três observações merecem destaque no filme de Bertrand Lira: a primeira, é a maneira como foi trabalhada a idéia de dedicar-se à trajetória de um individuo sem esgota-se num subjetivismo. O alcance social e político desse documentário, construído a partir de um trabalho de investigação sério e que nos leva a um processo de ressignificação do papel dos personagens. Há um momento no filme em que essa possibilidade de ressignificação fica mais nítido: a cena em que o diretor confronta o pastor e ex-travesti com Fernanda Benvenutty, liderança de uma associação de travesti da Paraíba. No confronto podemos entender que a idéia de travesti ou de homossexualidade ganha uma outra significação. A fala de Benvenutty quebra a linearidade da interpretação dos ex-homossexuais e não deixa o filme descambar para uma apologia da vida dos convertidos. Perigo sempre presente em qualquer trabalho que envolva religião e religiosos no Brasil. O filme ressignifica as idéias estabelecidas pelos personagens. Uma segunda observação é a aposta que faz o diretor em destacar a “palavra do outro” e concentrar-se no encontro, na fala e na transformação dos personagens diste da câmara. Bertand Lira mantém uma escuta ativa, fazendo breves perguntas no intuito de familiarizar o diálogo e potencializar a fala de um outro que está diante de uma câmara pela primeira vez em sua vida. Há um risco de moralizar as falas e isso não acontece com as intervenções do diretor. Ela procura se abster de qualquer julgamento moral diante do que dizem as pessoas filmadas, que constroem seus auto-retratos e sendo responsáveis pela elaboração de sentidos e interpretações sobre a experiência particular de cada um, tendo como centro o pastor ex-travesti. Nunca se pode perder de vista a temática, propicia a preconceitos vários. Nisso, a câmara de Bertrand Lira é de grande delicadeza com o tema e com os personagens. Por último, uma observação que muito nos chama a atenção é a de que o trabalho com os personagens não leva a construção de um “perfil sociológico determinado”, as pessoas não fazem parte de uma estatística e não pretendem justificar nenhuma tese do diretor. As contradições e sentidos não são resolvidos na montagem. Tais contradições são postas lado a lado. Repitamos mais uma vez: o filme não toma uma posição diante da conversão do pastor e ex-travesti. Coloca frente a frente duas situações possíveis em termos de práticas sexuais e ambas convencidas de tais práticas. Nisto, o diretor mostrar está perfeitamente antenado com as perspectivas do cinema documental que ganhou corpo da década de noventa até os dias atuais. Diante dessas observações, podemos entender O rebeliado como um filme que dialoga com uma tradição do cinema documental paraibano, inovando-a e reafirmando-a.


BIBLIOGRAFIA


AUMONT, Jacques. Moderno? Por que o cinema se tornou a mais singular das artes. São Paulo: Papirus, 2008.

BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro: Azougue editoria, 2004.

LINS, Consuelo & MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

ROLIM, Francisco Cartaxo. O que é Pentecostalismo. São Paulo; Brasiliense, 1987.

RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... O que é mesmo documentário? São Paulo: Editora do SENAC, 2008.

TEIXEIRA, Elinaldo (Org.) Documentário no Brasil: tradição e transformação. São Paulo: Editora Summus, 2004.

XAVIER, Ismail. Cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

* Professor de Filosofia na Universidade Federal de Sergipe.

sexta-feira, 2 de abril de 2010


Data: 06/Abril/2010
Local: Sala de Reuniões do CCHLA da UFPB (em frente à coordenação de Filosofia)
Horário: 17h30

[Palestra]


CINEMA E CIÊNCIAS HUMANAS: NOTAS A PARTIR DO ENSAIO "CINEMA: REVELAÇÃO E ENGANO" DE ISMAIL XAVIER

por Romero Venâncio



CINEFAGIA

CARTAZ DE DIVULGAÇÃO